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Internacional

Entenda a transformação do Sahel Africano: Mali, Burkina Faso e Níger

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Levantes militares com apoio popular reposicionam, no cenário internacional, os países do Sahel africano: Burkina Faso, Níger e Mali. Nos três casos, os novos governos iniciaram um processo de transformação institucional, política e econômica se distanciando da dependência da França, antiga colonizadora da região.

Essa transformação do Sahel africano – que poderia incluir ainda o Senegal, que elegeu um novo grupo político com perfil nacionalista em 2024 – tem na figura do presidente de Burkina Faso, o geólogo e capitão do Exército Ibrahim Traoré, de apenas 37 anos, o principal símbolo desse processo. O Sahel é a região que separa o deserto do Saara das florestas tropicais da África subsaariana. 

Considerada uma “descolonização efetiva” dessa região da África, Mali, Níger e Burkina Faso abandonaram a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) por considerarem subordinada aos interesses estrangeiros e fundaram, em setembro de 2023, uma nova organização regional: a Aliança dos Estados do Sahel (AES).

Com uma população semelhante à da União Europeia (UE), com mais de 420 milhões de habitantes, a África Ocidental é rica em recursos naturais, ouro, petróleo, minérios, entre outros, apesar de a população ser uma das mais pobres do mundo e a mais afetada pelo terrorismo, com diversos grupos insurgentes islâmicos ativos.

Para especialistas consultados pela Agência Brasil, a mudança do centro da economia mundial do Atlântico Norte, entre Estados Unidos (EUA) e Europa, para a Ásia e o Pacífico, somada à forte pressão demográfica naquela região, levou a essas transformações políticas que vêm reformulando a dependência econômica da França com suas ex-colônias.  

Descolonização

O pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Sobre África, Ásia e Relações Sul-Sul (NIEAAS), o historiador Eden Pereira Lopes da Silva, explicou que esses países, após os processos de independência, nas décadas de 1960, mantiveram regimes neocoloniais predatórios semelhantes ao período colonial.  

“Esses países hoje conseguiram atingir um determinado nível de maturidade política para dizer à França que o atual estado das coisas não pode continuar. Isso é muito importante porque se manteve esse modelo de desenvolvimento econômico associado à economia francesa por meio do franco CFA”, afirmou.

O jurista e analista geopolítico Hugo Albuquerque destaca que essa região da África Ocidental conheceu civilizações e Estados multiétnicos importantes antes da partilha do continente pelas potências ocidentais definida na Conferência de Berlim, em 1885.

“Os franceses fizeram uma dura exploração dessa região por décadas. Quando a França começa a perder o controle do seu sistema após a 2ª Guerra Mundial, ela resolve coordenar um processo de descolonização controlado apoiando uma falsa independência e criam-se repúblicas de mentira, de fachada”, explicou.


Ex-colônias francesas dessas regiões da África como Burkina Faso, Níger, Mali e Senegal promovem transformações políticas e econômicas que reposicionam esses países no mundo.
Ex-colônias francesas dessas regiões da África como Burkina Faso, Níger, Mali e Senegal promovem transformações políticas e econômicas que reposicionam esses países no mundo.

 Arte/Dijor

Mali  

A onda de levantes militares começou no Mali, em agosto de 2020, liderado pelo oficial Assimi Goïta, após protestos massivos contra a presença francesa no país, que derrubou o presidente Ibrahim Boubacar Keïta.  

“Esse movimento militar instala um novo governo com características nacionalistas e busca reformas sociais no país e reposicionar o Mali diante das presentes transformações globais”, explicou Eden Pereira.

Entre as medidas tomadas pelo novo poder no Mali, estão a nacionalização das minas de ouro e a assinatura de novos acordos, em especial, com a Rússia, para transferência de tecnologia para o desenvolvimento da agricultura ainda pouco desenvolvida em função da aridez do clima e da escassez de chuvas.

Burkina Faso

Em setembro de 2022, foi a vez de um levante militar com apoio popular derrubar o governo de Burkina Faso e iniciar um processo de expulsão das tropas francesas do país, assim como de nacionalização de minas, criação de bancos públicos e de medidas para se desvincular da moeda francesa franco CFA.

Liderado pelo jovem geólogo e militar Ibrahim Traoré, o movimento em Burkina tem reivindicado a tradição anti-imperialista e anticolonial de figuras históricas do pan-africanismo, como Thomas Sankara, de Burkina, e Patrice Lumumba, do Congo.

“Ele é uma grande liderança porque, diferentemente da junta militar no Níger ou do Mali, que são um pouco anônimas sem grandes lideranças pessoais, ele é uma grande liderança carismática e se assenta em uma legitimidade popular muito grande”, explicou Hugo Albuquerque.

Níger

O último país do Sahel a se juntar à onda de levantes militares nas ex-colônias francesas foi o Níger, em julho de 2023, quando o presidente Mohamed Bazoum foi deposto, assumindo uma junta militar liderada pelo general Abdourahamane “Omar” Tchiani.

O Níger era o responsável por fornecer a maior parte do urânio consumido na França, apesar de a maior parte da população local não ter acesso à eletricidade. Considerado um dos países mais pobres do mundo, o novo governo tem adotado medidas semelhantes aos de Burkina e do Mali.

O especialista Hugo Albuquerque destacou que, no caso do Níger, o urânio não era contabilizado como riqueza nacional

“O urânio era basicamente contabilizado com uma pequena taxa de extração, mas o material entrava como parte do PIB da França. É uma loucura. Por isso, a gente tem a ilusão de que aqueles países são mais pobres do que realmente são. É que recursos naturais são extraídos de uma forma tão colonial que até na contabilização não entra”, ponderou.


Senegal 23/05/2025 Governos de Máli, Burquina Fasso e Níger anunciam criação de Confederação dedicada a unificar defesa e economia dos países. Foto Reprodução/ Instagram
Senegal 23/05/2025 Governos de Máli, Burquina Fasso e Níger anunciam criação de Confederação dedicada a unificar defesa e economia dos países. Foto Reprodução/ Instagram

Mali, Níger e Burkina Faso fundaram uma nova organização regional: a Aliança dos Estados do Sahel (AES) –  Foto Reprodução/ Instagram

Senegal

O Senegal, apesar de não ter tido um levante militar, também passa por transformações importantes em contexto semelhante às mudanças do Mali, Níger e Burkina. Considerado um dos países mais estáveis da África Ocidental, tem mantido fortes relações com o ocidente, sendo a porta de entrada da França na colonização da região.

Em 2024, diante da iminente vitória da oposição de esquerda, as eleições foram suspensas e uma série de protestos populares sacudiu o país. Em seguida, o pleito acabou convocado e assumiu o jovem Bassirou Diomaye Faye, se apresentando como uma figura “antissistema” e anunciando, logo no início do governo, a saída das tropas francesas do território.

O pesquisador da NIEAAS Eden Pereira Lopes da Silva explica que o governo de Senegal tentou barrar as eleições do ano passado, isso antes de prender e excluir do processo o principal líder da oposição do país, Ousmane Sonko.

“O partido que ganhou as eleições é um partido extremamente popular, o PASTEF, e é um partido de esquerda progressista que reivindica toda a herança do pan-africanismo. E ele vence após décadas de um movimento neoliberal dentro do Senegal. Foram manifestações que levaram ao pleito eleitoral e no pleito eleitoral, o candidato da oposição conseguiu vencer”, contou.

Democracia

Com exceção de Senegal, os governos do Mali, Burkina Faso e Níger são acusados de serem ditaduras por terem se estabelecido por meio de golpes de Estado. Para os analistas consultados, não é correto classificá-los ainda dessa forma uma vez que estão construindo novas instituições políticas.

O historiador Eden Pereira pondera que são processos de transformação político-social interna e que os militares lideram esses processos porque são as instituições mais organizadas na maioria desses países.

“Quando ocorreu esse processo de estabelecimento de democracias liberais dentro dessas regiões, essas democracias carregavam consigo formas de relação política que existiam anteriormente no período colonial, o que excluiu boa parte da sociedade do processo político”, disse.

Para o analista Hugo Albuquerque, apenas Senegal tinha instituições políticas mais sólidas que podem se assemelhar ao que conhecemos no Brasil. Ainda assim, com um regime bem mais repressivo devido à perseguição sistemática contra a oposição. Os demais países do Sahel, em sua maioria, contavam com restrita participação política, segundo o especialista.

“O Níger, por exemplo, era um regime eleitoral que, basicamente, incluía aquela parte da população que tinha energia elétrica em casa, o que é a menor parte da população. Você falar em ditadura e democracia levando em consideração o estado de emergência socioeconômico é até cínico”, avaliou.

Terrorismo

Um dos principais problemas do Sahel africano é o terrorismo islâmico promovido por grupos insurgentes, entre eles, alguns ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico (EI).

O pesquisador Eden Pereira destacou que esses países foram intensamente afetados pela guerra ao terror promovida pelos países ocidentais, principalmente depois da queda do governo da Líbia, de Muammar Gaddafi, em 2011.

“A guerra ao terror naquela região promoveu a destruição de vários estados. E essa destruição de estados foi ocupada por um vazio social e econômico que proliferou uma série de problemas sociais”, comentou.

Ele acrescenta que o terrorismo é ainda alimentado pela exclusão de grupos étnicos inteiros do jogo político, que ficam sem representação na frágil institucionalidade.

“Isso acaba justificando uma presença militar ocidental sob o pretexto de ajudar aqueles países e mobilizar as forças armadas para o combate desses grupos. Só que isso acaba perpetuando a exploração desses recursos minerais”, completou.



Fonte: Agência Brasil

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Lula participa de Cúpula da Ásia do Leste

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpre, nesta segunda-feira (27), o seu quinto dia de agenda no Sudeste Asiático. Em Kuala Lumpur, capital da Malásia, ele participa da abertura da 20ª Cúpula da Ásia do Leste. Em seguida, será recebido em um jantar de gala, oferecido pelo presidente da Malásia, Anwar Ibrahim, e pela primeira-dama, Wan Azizah Wan Ismail.  

Lula está em viagem pelo Sudeste Asiático desde quinta-feira passada (23). Ele realizou visita oficial à Indonésia, onde tratou principalmente da cooperação econômica entre o Brasil e o país asiático. No dia 24, embarcou para Kuala Lumpur, na Malásia, onde participou da 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e do Fórum Bilateral Brasil-Malásia e cumpriu uma série de encontros bilaterais. 

Tarifas

Uma dessas reuniões foi com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No encontro, os dois líderes debateram as tarifas impostas a produtos brasileiros, a situação da Venezuela e a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas – COP 30, a ser realizada em Belém, em novembro deste ano.

Em entrevista após a reunião, Lula disse que está otimista em relação à suspensão do tarifaço imposto pelos Estados Unidos e que, em poucos dias, os países deverão chegar a um acordo.

 



Fonte: Agência Brasil

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Internacional

Lula: Em poucos dias teremos uma solução definitiva entre EUA e Brasil

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na madrugada desta segunda-feira (27) estar “convencido” de que em poucos dias haverá um acordo definitivo entre Estados Unidos e Brasil sobre o tema da taxação

“Estou convencido de que, em poucos dias, teremos uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil para que a vida siga boa e alegre do jeito que dizia o Gonzaguinha na sua música”, afirmou o presidente em coletiva de imprensa em Kuala Lumpur, na Malásia.

O presidente disse estar muito otimista com a reunião ocorrida com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e afirmou ter entregado um documento com temas que pretende abordar nas negociações.

“Eu estou muito otimista com a reunião de ontem e acho que nós vamos encontrar uma solução para o tarifaço. Não estou reivindicando nada que não seja justo para o Brasil e tenho, do meu lado, a verdade mais verdadeira do mundo: os Estados Unidos não têm déficit com o Brasil”, destacou.

Perguntado por jornalista estrangeiro se Trump fez alguma promessa ao Brasil, Lula brincou dizendo que não é santo para receber promessas. “Pra mim, o que ele tem que fazer é compromisso. E o compromisso que ele fez é que ele pretende fazer um acordo de muita boa qualidade com o Brasil.” 



Fonte: Agência Brasil

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Argentinos vão às urnas para renovar Câmara e Senado

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Os argentinos já estão nas ruas neste domingo (26) para votar nas eleições legislativas que irão renovar 127 vagas da Câmara dos Deputados e 24 do Senado. Os centros eleitorais estão abertos desde as 8h à espera de 35 milhões de eleitores. A votação se encerrará às 18h (horário local), em todas as províncias.  

O novo processo eleitoral determinará a composição do Congresso para os dois últimos anos de mandato do presidente Javier Milei. Internamente, o pleito é visto como um referendo que irá avaliar o impacto das profundas políticas de austeridade do presidente argentino. 

Renovação 

Metade da Câmara dos Deputados da Argentina, ou seja, 127 cadeiras, bem como um terço do Senado, ou seja, 24 cadeiras, estão em disputa. A corrida mais relevante se dará na província de Buenos Aires, onde um grande número de vagas é disputado.

A previsão no país é que os primeiros resultados sejam divulgados às 23h.  

*Com informações da Agência Reuters e TeleSur 



Fonte: Agência Brasil

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